Já a avaliação sobre os dois pontos principais de qualquer gestão, recursos financeiros e humanos, releva uma situação ainda mais crítica. A maioria (62%) discorda que tenha à sua disposição o necessário em termos de dinheiro e pessoal para realizar as suas atividades.
“As parcerias são uma importante ferramenta à disposição dos gestores para contornar os desafios de infraestrutura, gestão dos parques, e oferecer melhores serviços aos visitantes. O importante é que não sejam vistas como um fim em si mesmo nem como substitutas do órgãos gestores, que precisam ser fortalecidos e capacitados para gerir adequadamente esses instrumentos.””, diz Fernando Pieroni, diretor-presidente do Instituto Semeia.
Segundo a pesquisa, independentemente da modalidade e contrato firmado, 76% dos parques já possuem ao menos uma parceria com atores tais como: universidades, instituto de pesquisa, terceiro setor, empresas e/ou entidades privadas, associação de amigos, entre outros.
Entre os respondentes há uma constatação de que as parcerias com empresas, entidades privadas e/ou terceiro setor melhoram aspectos funcionais de sua administração. No caso da “gestão em geral”, essa percepção é reconhecida por 72% dos participantes. Na opinião de 80%, melhora também a conservação da natureza, e quase 60% concordam que otimiza o atendimento aos usuários.
“A avaliação geral sobre as parcerias é positiva. Mesmo os parques que não possuem qualquer modalidade de parceria, sinalizam expectativas de melhoria. Para que esses objetivos sejam alcançados, é primordial que todo o ciclo de planejamento e implementação desses projetos leve em consideração a participação dos atores interessados”, explica Mariana Haddad.
No que tange ao fortalecimento dos órgãos gestores, a maior parte já conta com profissionais qualificados e experientes: 59% atuam há mais de 6 anos na área de parques. Outro dado importante é que 73% têm formação focada em gestão de parques, incluindo temas como uso público, pesquisa, fiscalização, planejamento e gestão de conflitos.
Potencial ainda não explorado
Na visão dos entrevistados, os principais atrativos que os parques oferecerem à população possibilitam o contato com a natureza: flora (84%), fauna (70%) e trilhas (75%).
Entre as principais atividades disponíveis estão: observação de fauna, caminhadas de até um dia, piquenique e banho de mar/cachoeira/lago. Entretanto, considerando 26 atividades e a vocação do parque para desenvolvê-las, em apenas 4 há uma proporção maior da presença da atividade do que o potencial para sua implantação. A observação da fauna, por exemplo, já está presente em 60% dos parques e vista como vocação para outros 37%.
Para as demais 22 atividades, os parques relatam uma proporção maior de vocação para desenvolvê-las do que a existência de um aproveitamento efetivo. É o caso de atividades mais complexas, pois demandam requisitos de segurança e constante manutenção de estruturas, como tirolesa, presente em apenas 3% das unidades, mas vista como vocação em 59%.
Sobre a pesquisa
O objetivo principal do Diagnóstico do Uso Público em Parques Brasileiros: A Perspectiva da Gestão é mapear a situação da visitação nos parques naturais brasileiros a partir da perspectiva dos profissionais que atuam no cotidiano dessas áreas –principalmente gestoras e gestores. O levantamento é realizado pelo Instituto Semeia desde 2012 e passou a ser realizado bianualmente a partir de 2019.
O universo amostral compreende os parques naturais brasileiros registrados no CNUC – Cadastro Nacional das Unidades de Conservação, no 2° semestre de 2021. Esta edição contou com a participação de 73% dos parques do CNUC, e teve uma boa representatividade nas esferas administrativas (nacional, estadual e municipal), biomas, estados e regiões brasileiras. O período de coleta de dados foi de 20/06/2022 a 29/09/2022.
Os aspectos mapeados pela pesquisa estão relacionados à visitação, disponibilidade de recursos humanos, financeiros, a situação dos instrumentos específicos relacionados à gestão dos parques (plano de manejo, regularização fundiária, conselho consultivo e regularização fundiária), a existência e as expectativas com as parcerias e contratos que apoiam a administração desses espaços.
Sobre o Instituto Semeia
Criado em 2011, o Instituto Semeia é uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos. Com sede em São Paulo (SP), trabalha para transformar áreas protegidas em motivo de orgulho para brasileiras e brasileiros. Atua nacionalmente no desenvolvimento de modelos de gestão e projetos que unam governos, sociedade civil e iniciativa privada na conservação ambiental, histórica e arquitetônica de parques públicos e na sua transformação em espaços produtivos, geradores de emprego, renda, e oportunidades para as comunidades do entorno, sem perder de vista sua função de provedores de lazer, bem-estar e qualidade de vida. São pilares de sua atuação: a geração e sistematização de conhecimento sobre a gestão de unidades de conservação; o compartilhamento de informações por meio de publicações e eventos; a implementação e o acompanhamento de projetos com governos de todos os níveis, como forma de testar e consolidar modelos eficientes e que possam ser replicados no país.