Repórter ABC | Luís Carlos Nunes – Na manhã desta terça-feira (14/11), a Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) foi palco de um espetáculo peculiar durante a CPI da Enel. O diretor-presidente da Concessionária, Max Xavier Lins, enfrentou mais do que simples questionamentos sobre os serviços prestados pela empresa. Houve bate-boca nos bastidores, apagões que “vitimaram” até mesmo a apresentação em slides do depoente, e críticas ácidas dos prefeitos da região metropolitana.
A sessão, que deveria começar às 9h30, teve dois apagões iniciais, resultando na queima de uma televisão e de um adaptador, elementos que provavelmente se sentiram sacrificados pelo drama elétrico. O presidente da CPI, deputado Thiago Auricchio (PL), explicou que o fornecimento de energia precário foi o culpado, enquanto nos bastidores os profissionais da eletricidade protagonizavam um espetáculo à parte.
No auge do sarcasmo elétrico, durante as perguntas do deputado Luiz Fernando Teixeira (PT), mais um apagão fez-se presente no plenário, como se a própria energia estivesse impaciente com as respostas evasivas. Max Xavier Lins, diretor-presidente da Enel, iniciou seu depoimento com um toque de humor, prometendo responder a todas as perguntas, mesmo após um habeas corpus que daria o direito ao silêncio. Uma generosidade cômica, considerando o histórico recente de “apagões estratégicos”.
Os prefeitos, por sua vez, não economizaram nas críticas. Orlando Morando (PSDB), prefeito de São Bernardo, classificou o trabalho da Enel como “um lixo” e expressou seu descontentamento com a demora no atendimento e na resolução de problemas. José Auricchio Júnior (PSDB), prefeito de São Caetano, reforçou as palavras do governador Tarcísio Gomes de Freitas, dizendo que o contrato de privatização é “frouxo, mal regulado e mal fiscalizado”. Uma sutil nota de humor na tragicomédia da privatização.
A ironia atingiu seu ápice quando Max Xavier Lins sugeriu que as prefeituras utilizassem o georreferenciamento para auxiliar a Enel nas podas das árvores. Orlando Morando, visivelmente “irritado”, chegou a sugerir que o diretor-presidente da Enel deveria “ter vergonha na cara”. Nos corredores, o prefeito são-bernardense protagonizou um novo embate, dessa vez com Marcos Augusto Mesquita Coelho, diretor de relações institucionais da Enel.
E como em todo bom espetáculo, não poderiam faltar as reviravoltas. O aterramento dos fios foi tema central, com Max alegando que seriam necessários investimentos estratosféricos de R$ 320 bilhões. Uma proposta tão luminosa quanto um apagão inesperado. E para coroar o dia de eventos elétricos, a discussão sobre as indenizações trouxe à tona a falta de definição para quem perdeu alimentos durante os dias de apagão. Uma nota final de tragédia cômica na sinfonia dos descontentamentos.
Em meio a ironias e apagões, a CPI da Enel na Alesp se tornou um verdadeiro espetáculo de luzes e sombras, onde o diretor-presidente da Enel, prefeitos e deputados jogam uma partida de cartas marcadas, enquanto o contribuinte, cansado de ser “esfolado”, aguarda ansiosamente pela próxima “taxa de melhorias”. O jogo continua, e a plateia, essa grande massa de cidadãos-contribuintes, permanece no escuro, aguardando ansiosamente pelo desfecho dessa trama eletricamente carregada.